DAVID CASIMIRO DE ANDRADE (“IN MEMORIAM”) 30/06/1958 – 21/02/2024

No dia 28 de Fevereiro de 2024, pelas 18:30 h, na Igreja de Nossa Senhora da Porta do Céu, igreja Paroquial de Telheiras (perto do colégio Mira Rio e do Colégio Alemão), será celebrada uma missa por intenção do Prof. David Andrade.

Agradecemos a todos aqueles que puderem estar presentes.

 

David Andrade nasceu em Espinho, no final da década de 50 do século passado, de uma família tradicional espinhense. O pai era comerciante na baixa do Porto e chegou a ser Presidente da Associação dos Comerciantes do Porto.

Em pequenino, queria ser médico e padre. Frequentou a Escola Primária da Tourada, em Espinho, onde teve por mestre-escola o exigente Professor Bigaíl. Mais tarde, frequentou o Liceu Nacional de Espinho, na área curricular de Ciências.

Depois de concluir o Curso Geral dos Liceus, viveu por um curto período, como estudante, na Suíça e em França. Mas haveria de regressar a Portugal para concluir duas licenciaturas, ambas na Universidade do Porto: uma em Medicina Dentária, onde viria a trilhar um percurso brilhante e ímpar; e outra em Medicina, já como trabalhador-estudante.

Envolveu-se sempre em atividades desportivas, muito particularmente náuticas (mergulho, natação e caça submarina), tendo sido reconhecido, sobretudo, como um grande praticante de caça submarina. Todos os anos procurava novos mares onde pudesse praticar este seu hobby. Ele foi, também, Nadador-Salvador na praia de Espinho e Prof. de Biologia no liceu.

Na literatura, era bastante eclético, mas não se pode deixar de referir a sua grande predileção por Júlio Verne. Na música, as suas preferências iam para Frank Sinatra, Tom Jobim, GNR, Pedro Abrunhosa, Beatles e Rui Veloso. E a sua viagem de sonho era à Tailândia.

De acordo com a opinião dos seus colegas da Medicina Dentária, David Andrade era inteligente, conhecedor, bem disposto, divertido, curioso, ingénuo, inquieto e muito empreendedor (veja-se o livro, um verdadeiro tratado, que escreveu sobre a Odontopediatria). Seria – e aqui a opinião é unânime – o mais bem preparado dos odontopediatras nacionais.

David Andrade era considerado uma das maiores autoridades mundiais em matéria de medicina dentária ligada à trissomia 21, talvez, mesmo, a mais proeminente. O seu extraordinário conhecimento na área da trissomia 21, associado a uma invulgar perícia técnica, haveria de culminar numa surpreendente proposta à comunidade científica para a resolução do conhecido, frequente, incapacitante e estigmatizante problema da macroglossia (língua grande): em vez de reduzir o conteúdo (mediante a habitual glossectomia, ou seja, literalmente, a ablação de uma parte da língua, procedimento cirúrgico muito cruento e problemático), David Andrade postulou que seria mais fácil e eficaz aumentar-se o continente, ou seja, expandindo o maxilar superior, com o recurso a aparelhos já utilizados pela medicina dentária desde o início do século XX (embora redesenhados no presente). Como consequência do seu extraordinário contributo científico, bem como pela sua dedicação generosa e incondicional às crianças com trissomia 21, David Andrade foi nomeado Sócio Honorário da Associação Portuguesa de Portadores de Trissomia 21.

David Andrade protagonizou um percurso académico tão exemplar quanto fulgurante. Era, à data da sua morte, Professor Associado com Agregação da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto (todos esperávamos que a instituição viesse a reconhecer o mérito e a visibilidade nacional e internacional da Odontopediatria com uma merecida cátedra, facto que, com grande mágoa sua, não aconteceu). O seu doutoramento, brilhante em todas as dimensões, foi, naturalmente, sobre a trissomia 21, designadamente os benefícios da expansão maxilar. Os seus trabalhos são conhecidos e lidos pelos especialistas em trissomia 21 por todo o mundo. Em 2018, com a chancela da Universidade do Porto, deu à estampa essa obra excecional, verdadeiro tratado médico, que tomou o nome de “TEXTOS ESCOLHIDOS DE ODONDOPEDIATRIA”. Mas, muito mais interessante, o Prof. David Andrade materializava, de uma forma tão admirável, quanto generosa, os preceitos hipocráticos bem explícitos no código de honra dos médicos, ao discriminar positivamente as pessoas em desvantagem, atitude maravilhosamente expressa pela observação gratuita e incondicional dos bebés com trissomia 21 no seu próprio consultório privado.

Em 2018, pelas razões apontadas, foi galardoado com o Prémio Maria Teresa Palha da Associação Portuguesa de Portadores de Trissomia 21.

Quem com ele privava, conseguia aperceber-se da maravilhosa relação do David Andrade com a sua mulher, a Maria José, e do efeito realmente benéfico que ela exercia sobre ele, conjugando a amabilidade e a gentileza com o humor, a ponderação e a ternura.

Tinha dois filhos maravilhosos: a Joana e o José Rui, que, felizmente, estão a seguir o trajeto profissional do pai. E, grande injustiça, deixa 3 netos pequenos, que se verão privados do afeto, da influência e da generosa companhia do seu extraordinário avô.

Um muito obrigado ao David Andrade e à sua família.

 MIGUEL PALHA