PDAH
Perturbação de défice de atenção / Hiperatividade em idade pediátrica
A perturbação de défice de atenção / hiperatividade (PDAH), tradução que nos parece mais precisa do original americano do DSM-5 attention deficit / hiperactivity disorder, é uma perturbação do neurodesenvolvimento de elevada prevalência, consituindo o principal motivo de referenciação a consultas de neurodesenvolvimento ou de saúde mental infantil e juvenil.
Indivíduos com esta perturbação apresentam manifestações de défice de atenção, hiperatividade e/ou impulsividade, por um período prolongado de tempo, com início antes dos 12 anos de idade, em múltiplos contextos e interferindo de forma significativa com o seu desempenho académico, social e/ou laboral. Tais sintomas não são melhor explicados por outras perturbações do neurodesenvolvimento ou psiquiátricas.
Descrições de pessoas com esta perturbação estão disponíveis desde há longa data. Cerca de 1613, William Shakespeare, na peça “Henrique VIII”, cria uma personagem que parecia ter problemas de atenção. Em 1775, Melchior Adam Weikard, um proeminente médico alemão, na sua obra Der Philosophische Arzt, fez aquela que é considerada a primeira descrição de uma pessoa com PDAH na literatura médica. Em 1798, Sir Alexander Crichton, descreve o que ele chamou de “irrequietude mental”. Em 1844, Heinrich Hoffmann escreve um interessante poema, Zappelphilip, sobre uma cena da vida familiar de uma criança com provável PDAH. Em 1902, Sir George Frederick Still, considerou o quadro clássico de PDAH como um “defeito da consciência moral” de algumas crianças. Em 1917, quadros semelhantes foram considerados como “perturbação do comportamento pós-encefalítica”. Em 1932 foi introduizda a terminologia “doença hipercinética da infância”. Em 1937, Charles Bradley, quase por acidente, descobriu o efeito dos estimulantes na PDAH, nomeadamente da benzedrina. Em 1944, foi introduzido o metilfenidato, por Leandro Panizzon. Curiosamente, o primeiro DSM (AAP) não contemplava esta perturbação. Já o segundo, DSM-II, em 1968, introduziu a terminologia “Reacção hipercinética da infância”, substituindo o conceito de “Disfunção cerebral mínima”, anteriormente existente. Apenas em 1970, com os trabalhos de Virginia Douglas e colaboradores, se começou a colocar ênfase no défice de atenção e dificuldade de controlo de impulsos, em lugar da hiperactividade, na explicação da maior parte dos défices observáveis nesta perturbação. Em 1980, a importância desta corrente tornou-se bem evidente no DSM-III, ao reclassificar a perturbação como perturbação de défice de atenção, que se apresentaria com ou sem hiperactividade associada. Mas esta conceptualização colocava alguns problemas de diagnóstico diferencial, análise e valorização dos resultados da intervenção e por não explicar toda a fenomenologia comportamental da perturbação. Assim, no DSM-III-R, em 1987, surge a nomenclatura perturbação de défice de atenção e hiperactividade, semelhante à que ainda hoje é usada no DSM-5 (2013).